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Eu, mulher negra

  • Foto do escritor: Lai Alves
    Lai Alves
  • 24 de jul.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 13 de set.

Dia sim e dia também pela minha golden hour!
Dia sim e dia também pela minha golden hour!

Eu nunca tive o (entre muuuitas aspas) o privilégio de não ser vista como negra. Por ter uma pele retinta, a minha negritude sempre esteve muito escancarada, e com isso, o racismo sempre foi presente: “brincadeiras” sobre o meu cabelo, ser preterida em toda e qualquer situação (era a última a ter um par na quadrilha da festa junina), ser a amiga menos próxima, não ser “vista” pelos meninos na adolescência… Mas eu não entendia a dimensão do que era ser negra, sabia que era mas não sabia o que significava.


Eu não tive uma educação racial em casa. Meus pais, também negros e retintos, vindos do interior de Minas Gerais não tiveram esse conhecimento, mas minha mãe me educou para saber o racismo seria presente e constante: assim como a maioria das mães negras da década de 1990 exigia que eu estivesse sempre limpa, bem arrumada, cheirosa e que tudo que eu fizesse estivesse no mínimo excelente. Lembro que os trabalhos escolares eram feitos em três etapas: primeiro a pesquisa e resumo nas enciclopédias que tínhamos em casa, depois ela lia e avaliava e por fim eu fazia a versão final que seria entregue baseado nos resumos que ela ajustava. Do jeito dela ela ensinou aos filhos, mas principalmente à mim, que pra estar ao lado de uma pessoa branca eu teria que provar ser muito melhor. Isso gerou algumas questões sobre minha autoestima e minha auto percepção, mas eu não julgo o que ela fez, ela me preparou para o que o mundo, racista e machista, exigiria de mim. Ela fez, da melhor forma que pode, o que sempre disse sobre os filhos, ela me preparou para o mundo.


Hoje, no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, eu venho dizer que ser mulher negra é exaustivo. Precisamos o tempo todo suportar pressões e agressões de todos os lados e ainda performar, acima da média, para ser minimamente considerada. Precisamos nos adaptar, nos calar, nos conter, nos modificar para atender a todos os requisitos que a sociedade exige, mas ainda seguimos sendo preteridas, deixadas de lado, não ouvidas. Mas que nesse mesmo dia nos lembremos que temos nós mesmas e umas às outras. Que olhemos com carinho e orgulho para àquelas que vieram antes de nós e, que por mais que não tenha sido do jeito mais suave e amoroso, fizeram o que podiam para nos fazer caminhar um pouco mais longe. Que encontremos braços que nos ajude a enfrentar as batalhas e colos para desaguar as dores do dia. Que criemos laços de amor, de carinho e de apoio.


Mas que, principalmente, sejamos acolhedoras e carinhosas com nós mesmas. Que saibamos entender e nossas questões, que não minimizemos nossas dores e principalmente não desistamos do nossos sonhos! Não é fácil e nem confortável, mas abrir mão do que nos faz brilhar e viver só engrandece quem deseja nos apagar.

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